O cristianismo brasileiro tem sofrido, nos últimos anos, um profundo desgaste moral. Isso se deu pela inabilidade que muitos cristãos têm de se relacionar nos âmbitos familiares, profissionais e até político, segundo os princípios que seu mestre Jesus Cristo deixou como diretrizes para uma vida admirável e bem aventurada em todas as estâncias da vida.

É verdade que tudo que é desconhecido é demonizado por algum cristão. Por isso, o relacionamento fora do ambiente da igreja já foi tachado como perigoso. Com a política, não foi diferente, porem, o problema cresceu quando a ignorância se aliou a ambição. Ou seja, alguns cristãos desejaram ter poder político, sem a devida consciência cristã e consciência do ambiente político. 

No âmbito da política, o evangélico tem buscado ocupar espaços e justificado essa ambição em uma bandeira conservadora. É inegável que os cristãos também, são cidadãos com direito e o dever de votar. Bem como, serem candidatos.

Entretanto, apesar de vivermos na era do conhecimento, com acesso pleno a informação, alguns líderes do cristianismo não só consideram seus membros incapazes de exercerem seu direito consciente como eleitor, como subjugam a consciência dos membros às suas pseudos verdades absolutas. Por conseguinte, os tratam como escravos eleitorais, usando seus direitos individuais, como sendo obrigatoriamente deles. Porem, com um ar amigável, que no fim, tem consequências para os membros carreiristas do "clero" evangélico, caso não apoiem os interesses escusos dos seus líderes. 

Para piorar, muitos líderes do movimento evangélico, aceitam de políticos, favores em troca do apoio coletivo, que envolve seduzir os membros a votarem nos candidatos indicados pelo líder. 

Daí, muitos políticos passaram a ver igrejas como curral eleitoral, e passaram a trocar benefícios a pastores e familiares, pelos votos considerados de cabresto. Assim sendo, os líderes negociam os votos individuais, que não lhes pertencem, como sendo um patrimônio imaterial deles. 

Todavia, alguns líderes do cristianismo descobriram que eles poderiam ganhar muito mais, elegendo seus familiares e em último caso, seria indicado, um membro de confiança do pastor. Este membro, só teria sua candidatura aprovada pela denominação, se deixasse seus líderes influenciarem em seu mandato e até interferirem na escolha dos cargos comissionados. Caso ele questionasse essa subserviência, na próxima eleição seria substituído por outro nome, considerado “mais fiel” aos interesses do líder.  Logo, isso é uma espécie de autoritarismo sofisticado. Tudo isso, pode não ser ilegal, porém, é no mínimo imoral. 

O sistema político brasileiro, com sua fama de enriquecimento fácil, favores generosos a líderes religiosos e cabide de emprego, conseguiu atrair e transformar alguns dos meus heróis da fé, homens que me inspiraram a servir Jesus como igreja, em militantes políticos. Sobretudo, com meus heróis eu aprendi que a igreja era a forma de Deus restaurar a sociedade, mas, o que estou vendo são homens de Deus buscando os benefícios da política em detrimento da credibilidade da igreja.

É bem verdade, que não é a maioria dos lideres que procedem assim, como também, não são a maioria dos membros que compactuam. Em razão disso, eu sonho com uma igreja que cumpra seu propósito, de libertar a consciência das pessoas, independentemente de quem está controlando.

Nessa visão, o papel da liderança cristã é conscientizar os membros da sua liberdade individual, que é de escolher com consciência bíblica, espiritual e social o candidato que recebera seu voto para representa-lo, nos poderes legislativo e executivo. À vista disso, a função da liderança cristã, é ajudar os membros a conscientizar-se de seus direitos e deveres, é incentiva-los a praticá-los.

A igreja deve enfatizar, que todo membro é um cidadão e seu voto é decisivo para o desenvolvimento social, assim, nenhum favor deve ser aceito em troca do voto, para que o candidato eleito seja cobrado, de seus deveres.

Isto posto, o voto por ser secreto, é uma garantia do cidadão, que nenhum líder cristão tem o direito de determinar, em quem o membro deve votar. Bem como, o líder não tem o direito de fazer acordo, que beneficia a si mesmo ou sua família, em troca do voto de seus membros. Caso o líder inflija esse principio, esse líder é um déspota.

Enfim, qualquer cidadão ou líder, que negociar seu poder de voto individual ou coletivo, preferindo, buscar seus próprios interesses em detrimento das necessidades e direitos da sociedade. Não está amando o próximo como a si mesmo. Por consequência, para o cristianismo vencer o desgaste moral, que alguns evangélicos com poder político têm causado, é necessário uma revolução de consciência e um desprendimento do privilégio político.

Sérgio Batista é pastor e teólogo. É também Especialista em Dialogo Ecumênico e Inter-religioso, Mestre em Ciências da Religião e doutorando em Ciências da Religião. É  fundador da Comunidade Cristã Servir.