27/04/2021 - QUANDO UM AMIGO NOS DEIXA
O que fazer quando um grande amigo resolve não mais fazer morada em nossa vida? Essa pergunta permeia o mais íntimo do nosso coração quando, de repente, aqueles queridos aliados com quem um dia compartilhamos tantas risadas e choros, passeios e viagens, visitas inesperadas, simplesmente decidem ir, assim, sem forçar. Não é uma partida consciente, e basta analisarmos alguns aspectos para percebermos isso.
Um dia, sentimos um desajuste. As conversas, antes tão frequentes, tornam-se raras. As mensagens, trocadas quase que diariamente, perdem a frequência. Sentimentos e confidências antes tão confiantemente compartilhadas perdem o sentido. A frieza começa a ganhar um espaço que antes ela não tinha, e de tanto negligenciar algo que um dia era tão importante, nos pegamos recordando a ultima conversa e o último abraço, que se soubéssemos ter sido o último talvez teríamos aproveitado com maior intensidade.
Essas coisas não acontecem porque queremos. Acontecem porque... simplesmente acontecem. As vezes precisamos deixar o significado das coisas um pouco para escanteio, afinal, nem tudo entendemos, e morreremos sem entender.
Mas vagando um pouco sobre o que nos leva a essa tão dolorosa perda de contato, chego a conclusão de que vivemos em uma era tão caótica que regar uma amizade se torna um ato cada vez mais escasso: a demanda excessiva de trabalho, os estudos acumulados, a responsabilidade com os parentes, a correria diária com os filhos, o relacionamento que não vai bem. Uma vida tão cheia, mas ao mesmo tempo tão vazia.
Nesse ínterim, tentamos forçar. A dor da perda torna-se tão latente, as lembranças daquela amizade incrível torna-se tão viva, que a gente não resiste: manda mensagem mesmo sabendo que não terá aquela atenção que tinha no início, faz uma visita mesmo sabendo que não receberá uma tão cedo (tampouco que será convidado a visitar de novo), compartilha sentimentos mesmo sabendo que receberá aquele vago "nada" de volta, até que um dia, a gente entende: aquilo que é não precisa forçar. Se tiver que partir, deixe partir. Se tiver que doer, deixe doer por alguns meses (ou até mesmo anos!). É como bem disse o saudoso Caio Fernando de Abreu: "O que tem de ser, tem muita força. Ninguém precisa se assustar com a distância, os afastamentos que acontecem. Tudo volta! E voltam mais bonitas, mais maduras, voltam quando tem de voltar, voltam quando é pra ser. Acontece que entre o ainda-não-é-hora e nossa-hora-chegou, muita gente se perde. Não se perca, viu?"
Não devemos nos perder tentando trazer a memória de alguém tão querido que ainda o amamos se essa pessoa (ou essas pessoas) esqueceram de te amar de volta. Não as culpe. Não é consciente. Infelizmente o que se deixa de regar não tem poder de crescimento, e em algum lugar, um lugar em que não se pode mensurar, nossos amigos esquecem de nos regar. Eu tenho medo de uma vida vazia de coisas demais. Mas nem todo mundo sente, nem todos são dotados dessa sensibilidade de que está perdendo alguém, mas um dia, em algum canto esquecido da memória, ou revendo fotos de momentos divertidos que passaram juntos, talvez eles se perguntarão: "Aonde anda aquele meu amigo?" E nesse momento, exatamente nesse momento (infelizmente) perceberão que deram conta dessa perda tarde demais. Há coisas que não voltam. O tempo, queridos amigos, é um deles!
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